Quem foi Jesus Cristo na opinião de Talo (~52dC)?

Talo é normalmente reconhecido como um antigo historicista samaritano que escreveu em grego koinê, possivelmente entre 50 e 55dC. Sabemos isso em função da menção de Julio Africano (Fragments, XII), Lactantius (Divine Institutes, XIII), Teófilo (To Autolycous, III, XXIX), Tertuliano (Apology, X), Justino Mártir (Horatory to address to the greeks, IX; todos alistados em: ROBERTS, Alexander, DONALDSON, James, Ante-Nicene Fathers) e Flávio Josefo (JOSEFO, Flávio, História dos Judeus – CPAD, 2000, pp.424), pouco depois de sua controversa citação de Jesus Cristo.

Talo escreveu sobre a história do mundo mediterrâneo, muito embora nenhum dos seus escritos realmente tenha sobrevivido, ou seja, tudo o que sabemos sobre ele e sua obra provêm de outros escritores. Um desses autores que o menciona é Júlio Africano quando menciona a escuridão que cobriu a terra durante a crucificação de Cristo. Segundo Africano, Talo teria registrado esse fato como um evento cósmico, observe:

“Talo, no terceiro dos seus livros que escreveu sobre a história, explica essa escuridão como um eclipse do sol – o que me parece ilógico” – (MACDOWELL, Josh, Evidências que exigem um veredito, Cadeia, 1992, pp.107)

É interessante a proposição desse diálogo de Júlio Africano com Talo, afinal parece que Talo refuta o que Júlio acredita piamente. É fato que a defesa de Júlio não parece a mais adequada, até porque, hoje poucos achariam a proposta de um eclipse solar no período da morte de Cristo algo tão ilógico, como Júlio acredita. Entretanto, parece interessante que ainda que um fenômeno natural tenha sido atribuído como a causa dessa escuridão mencionada por Marcos e Lucas nos evangelhos canônicos, um dos fatos bem intrigantes da história de Cristo parece ter sido aludida até mesmo por aqueles que se recusavam a acreditar

Yamauchi também nos lembra de uma citação interessante feita por Paul Maier sobre esse período de escuridão, em uma nota de rodapé do seu livro sobre Pôncio Pilatos (1968):

“Esse fenômeno, evidentemente, foi visível em Roma, Atenas e outras cidades do Mediterrâneo. Segundo Tertuliano foi um evento cósmico ou mundial. Flegão, um outro grego da Cária, escreveu uma cronologia pouco depois de 137 dC em que narra como no quarto ano das Olimpíadas de 202 (ou sejam 33dC), houve um grande eclipse solar, e que anoitecei na sexta hora do dia, de tal forma que até as estrelas apareceram no céu. Houve um grande terremoto na Bitínia, e muitas coisas saíram fora de lugar em Nicéia” – (MAIER, Paul, Pontius Pilate, p.366; IN: STROBEL, Lee, Em defesa de Cristo, Vida, 1998, 111)

Com essas declarações de Talo, corroboradas pela opinião de Flegão, podemos auferir pelo menos três conclusões interessantes: (1) Na ocasião da morte de Cristo, houve um evento cósmico que foi conhecido em diferentes partes do mundo antigo de modo impressionantemente similar ao registro das escrituras; (2) O evangelho, ou pelo menos a história da crucificação de Cristo, já era conhecida na região do Mediterrâneo por volta do ano 50dC; (3) Aqueles que não acreditavam na história cristã já ofereciam diferentes explicações para as informações que tinham acesso.